Eduardo, assassinado em Tebas
O Supremo Tribunal Federal decide hoje se quem tem razão é Fabio Comparato, que quer punir os torturadores do regime militar, ou se os torturadores.
A propósito, sugiro a leitura da notável coleção de ensaios reunidos por Edson Teles e Vladimir Safatle em “O que resta da ditadura”, coleção Estado de Sítio, da Boitempo Editorial.
Aos ministros do Supremo, nesse encontro com a História, recomendo especialmente o ensaio de Safatle, “Do uso da violência contra o estado ilegal”.
Aí, lê-se:
(Antígona é) “ … uma das belas reflexões a respeito dos limites do poder. Ela é o verdadeiro núcleo do que podemos encontrar nesta tragédia que não cessa de nos assombrar.”
“ … o Estado deixa de ter qualquer legitimidade quando mata pela segunda vez aqueles que foram mortos fisicamente, o que fica claro na imposição do interdito legal de todo e qualquer cidadão enterrar Polinices, de todo e qualquer cidadão reconhecê-lo como sujeito autor de seus crimes. Pois não enterrá-lo só pode significar não acolher sua memória através dos rituais fúnebres, anular os traços de sua existência, retirar o seu nome. Uma sociedade que transforma tal anulação em política de Estado, como dizia Sófocles, prepara sua própria ruína, elimina sua substância moral. Não tem mais o direito de existir enquanto Estado. E é isto que acontece a Tebas: ela sela o seu fim no momento em que não reconhece mais os corpos dos ‘inimigos do Estado’ como corpos a serem velados”.
Ou como diziam os carrascos de Auschwitz, que Safatle cita: “Ninguém acreditará que fizemos o que estamos fazendo. Não haverá traços nem memória.”
O Conversa Afiada oferece essa reflexão de Safatle a todos os brasileiros de Tebas que se comoveram com o destino de Eduardo, o motoboy assassinado por um sargento e oito soldados, dentro do 9º. Batalhão da Polícia Militar de São Paulo, na Casa Verde.
Eduardo é uma vítima de Creonte.
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