quinta-feira, 17 de junho de 2010

Pedido de informações


Acima, Yasmin Jilani (7), filha do árabe morto, com as irmãs Mirage (15) e Hana (17)

Emily Henochowicz, norte-americana atingida por arma dos EUA, disparada por israelenses


Tenho recebido, com certa frequência, e-mails de uma organização chamada Rua Judaica, trazendo propaganda israelense ("hasbara"). Até aí, tudo tranquilo, pois lhes cabe todo o direito de fazer a defesa de determinado ponto de vista.

Mas, como não tenho sangue de barata, e alguns pontos me incomodam, acabei por responder a algumas das colocações. E esta, em especial:

TEXTO ENVIADO PELO RUA JUDAICA:
"- Três guardas de fronteira de Israel foram feridos quando uma pickup foi lançada contra eles por um árabe-israelense no bairro de Wadi Joz nas cercanias de Jerusalém Oriental. O atacante tentou fugir mas foi abatido pela policia que considerou tratar-se de atentado terrorista."


MINHA RESPOSTA:
Ah, esse é o caso do sr.
Ziad Al-Jilani, por acaso (sim, ele tinha nome)?
Pelas "investigações", o "atacante" foi confirmado como terrorista? Agradecemos o envio da informação, mas gostaríamos de ter acesso a detalhes mais completos, para não corrermos o risco de fazer um julgamento de valor baseado apenas em superficialidades.
Poderia nos brindar com as demais informações sobre mais este lamentável fato?

E, se possível, já que nos escolheram para enviar notícias sobre o conflito, gostaríamos de saber como está o caso da jovem norte-americana
Emily Henochowicz. Perdeu a visão de um dos olhos mesmo? Está bem? Será indenizada? Quem atirou será punido? Ou a menina era "apenas uma terrorista"?

Obrigado! E esperamos, ansiosos, pelas respostas.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sensibilidade assassinada



As duas fotos acima foram captadas pelo fotojornalista Cevdet Kılıçlar, assassinado aos 38anos, por comandos israelenses, quando fazia a cobertura da viagem de ativistas que levavam ajuda humanitária a Gaza, no barco Mavi Marmara.
De acordo com a propaganda israelense, Cevdet, o cara com sensibilidade para estas fotos, era um "terrorista".
Veja mais imagens na galeria interrompida de Cevdet, no Flickr.

Os "terroristas" do Mavi Marmara, segundo Israel

Os nove "terroristas" (na versão da "hasbara" israelense) assassinados no dia 31 de maio:

Putting Names To Faces

A brief introduction to the nine people shot dead on 31 May 2010, by Israeli soldiers who attacked the Turkish vessel M.V. Mavi Marmara, as it attempted to transport humanitarian aid to the Gaza Strip.

1. Ibrahim Bilgen, 61, an electrical engineer from Siirt. Member of the Chamber of Electrical Engineers of Turkey. Ran as a Saadet (Felicity) Party candidate in the Turkish general election of 2007 and the Siirt mayoral election of 2009. Married with 6 children. (link - link - link - link)

Ibrahimbilgenn2

2. Ali Haydar Bengi, 39, ran a telephone repair shop in Diyarbakir. Graduate of Al-Azhar University, Cairo (Department of Arabic Literature). Married to Saniye Bengi; four children - Mehunur (15), Semanur (10) and twins Mohammed and Senanur (5, pictured below). (link - link - link - link)

Ali haydar bengiBengi twins

3. Cevdet Kiliçlar, 38, from Kayseri. A graduate of Marmara University's Faculty of Communications; formerly a newspaper journalist for the National Gazette and the Anatolia Times. For the past year he was a reporter and webmaster for the Humanitarian Relief Foundation (IHH). Married to Derya Kiliçlar; one daughter, Gülhan, and one son, Erdem.

See him participating in an IHH African relief project here. See his Flickr photos here. (link - link - link - link)

Cevdet Kiliçlar_2

4. Çetin Topçuoglu, 54, from Adana. Former amateur soccer player and taekwondo champion, who coached Turkey's national taekwondo team. Married with one son, Aytek.

See Çetin Topçuoglu's Facebook page here. (link - link - link - link)

Çetin Topçuoğlu

His wife, Çigdem Topçuoglu (below, right), was also aboard the Mavi Marmara, but survived. (link - link - link - link)

Çetin and Cigdem Topçuoğlu

5. Necdet Yildirim, 32, an IHH aid worker from Malatya. Married to Refika Yıldırım; one daughter, Melek, aged three. (link - link)

Necdet yildirim

6. Fahri Yaldiz, 43, a firefighter who worked for the Municipality of Adiyaman. Married with four sons. (link - link - link)

Fahri YaldizFahri Yaldiz family2

7. Cengiz Songür, 47, from Izmir. Married to Nurcan Songür; six daughters and one son. (link - link - link - link - link)

Cengiz Songür_2

8. Cengiz Akyüz, 41, from Iskenderun. Married to Nimet Akyüz ; three children - Furkan (14), Beyza (12) and Erva Kardelen (nine). (link - link)

Cengiz Akyüz_2

9. Furkan Dogan, 19, in his senior year at Kayseri High School where he was awaiting the results of his university entrance exams; hoped to become a doctor. Loved chess. Son of Dr. Ahmet Dogan, Assoc Prof at Erciyes University. A Turkish-American dual national, with two siblings. (link - link - link - link - link - link - slideshow)

Furkan Dogan


Do blog Lawrence of Cyberia

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Café amargo

Todo mundo tem direito a opinar, sem dúvida. Mas está sujeito a críticas, quando o faz.

Encontrei uma "empresa" (ou algo do gênero) chamada Cafetorah, na qual alguém que não se identifica (responde sempre como "Diretoria do Cafetorah") oferece produtos israelenses no Brasil. Apesar da aparente falta de transparência da parte da empresa, se você quiser entrar em contato, terá antes que se registrar no site, dizendo quem você é.

Bom, mas a questão aqui é outra. Fui espiar mais atentamente, e vi que a tal "Diretoria" não é da ala que condena as vilanias israelenses. Pelo contrário! Mas até aí tudo bem.

O que me surpreendeu mesmo (ou talvez nem tanto) foi o artigo "Uma vez mais Israel passa de vítima a vilão", postado no site, em bom português. Ao defender a ação de pirataria cometida esta semana, em águas internacionais, o autor elegeu um dos ativistas para "representar" os demais "terroristas" a bordo do navio sequestrado. Quem? A brasileira, de descendência coreana, Iara Lee.

Talvez observando o currículo de uma brasileira, descendente de Coreanos, que estava no maior barco da flotilha, possamos lançar luzes sobre esse enigma. Iara Lee é uma jovem idealista, fundadora da “Caipirinha Fundation”, aparentemente uma companhia cultural cujo tripé ideológico é “Faça Filmes e não Guerra”; “Faça Música e não Guerra” e “Faça Comida e não Guerra”. (...) Iara Lee representa bem os 750 ativistas pró-palestinos que estavam divididos nos 6 barcos."

Perigosa essa nossa conterrânea, hein? Uma verdadeira ameaça a Israel!!! Imagina se, ao invés de aprender a fazer filmes, ela tivesse instrução militar onde aprendesse a usar fósforo branco contra crianças?


Por Germano S. Leite

“Bibi, sua mãe sabe que você é pirata?”

Richard Walden*, Huffington Post , tradução de Caia Fittipaldi

Em agosto de 1982, chefiei uma missão de auxílio humanitário ao Líbano, dois meses depois que Israel invadira o país.

O que se iniciou como incursão militar limitada, para deter ataques com mísseis contra sua fronteira, lançados pelo que então se chamava “forças da OLP”, e incursão em torno da qual Israel mobilizou todo o apoio da comunidade de judeus nos EUA e na Europa Ocidental, rapidamente despertou fundadas suspeitas de que a resposta israelense era (estava, então, sendo) desproporcional à agressão. A Força Aérea de Israel destruiu mais de 45 MIGs sírios, sem perder um único avião; inutilizou baterias antiaéreas em todo o território libanês e também em território sírio; e, ao mesmo tempo, manteve seus tanques em avançada continuada para o norte, em avanço sobre a capital, Beirute – avanço que nenhum exército israelense jamais sequer se atrevera a tentar.

Rapidamente, a simpatia pelos sofrimentos de civis israelenses, em todo o mundo, converteu-se em indignação. Em Los Angeles, o boletim diário que o consulado israelense emitia para seus grandes apoiadores judeus, doadores e financiadores, foi repentinamente cancelado depois de cinco dias de boletins em que só se louvavam os sucessos israelenses. Até os maiores ‘parceiros’ de Israel começaram a manifestar horror e indignação contra o que toda a opinião pública já definia como objetivos militares e políticos distorcidos e ambíguos.

Reunindo fundos exclusivamente privados, a ONG “Operation California” (hoje já mundialmente conhecida como “Operation USA”, fundo de ajuda humanitária constituído de recursos exclusivamente privados), anunciou a partida, rumo ao aeroporto de Beirute, do primeiro avião carregado com produtos de socorro e alimentos. Antes de que chegássemos lá, com 40 toneladas do que reuníramos, Israel bombardeou o aeroporto de Beirute, fechando-o completamente para voos comerciais e de socorro humanitário.

Fomos obrigados a voar para Larnaca, no Chipre, e alugar um barco de transporte de carga, para viagem de 16 horas. Nossa viagem e nosso esforço humanitário foi amplamente divulgado. Alguns grupos ofereceram-se para entregar os produtos aos militares israelenses dentro do Líbano, para distribuição nas áreas ocupadas – ideia que imediatamente (e indignadamente) rejeitamos.

Enquanto voávamos de Los Angeles para Chipre, as potências mundiais e a ONU negociaram um cessar-fogo que incluía a imediata evacuação de cerca de 14.000 combatentes armados da OLP, reunidos no porto Beirute, para o Chipre… com todas as armas… e para que fossem imediatamente transferidos, do aeroporto de Larnaca para vários países árabes que se dispunham a acolhê-los e, em seguida, devolvê-los aos países de origem. Nosso cargueiro DC-8 aterrizou em Beirute e taxiou diretamente para uma área do aeroporto onde uma multidão de combatentes completamente armados da OLP esperavam pelo avião que os levaria para Argélia, Líbia e outros países que lhes haviam concedido asilo.

Um alto funcionário dos EUA, da embaixada dos EUA em Beirute – cuja recepção e atenção nós não havíamos requisitado, mas que lá estava por excesso de atenção da própria embaixada –, veio ao encontro do nosso avião e elogiou o nosso esforço humanitário. Nossos produtos deveriam ser distribuídos através do Conselho das Igrejas do Oriente Médio, para cristãos libaneses, muçulmanos e palestinos, por critérios que só consideravam as necessidades manifestas e sem beneficiar prioritariamente qualquer grupo.

O Conselho de Igrejas já fretara a barca-transportadora e as 40 toneladas de produtos foram levadas às docas, acompanhadas por um repórter do LA Times, um editorialista de uma agência de notícias e quatro funcionários e voluntários da nossa organização “Operation California”.

Essa equipe, à qual se juntaram alguns (cerca de dez, no máximo) civis libaneses, que pagaram ao capitão da barca-transportadora para viajar conosco, lá se foram, com os produtos que nos cabia entregar no Líbano, para uma travessia que se esperava tormentosa, rumo a uma zona de guerra.

O que não sabíamos é que a mesma barca-transporte, antes, transportara vários combatentes armados da OLP, que haviam viajado de Beirute para Chipre, sob proteção internacional. Nessas circunstâncias, voltar para Beirute, depois de descarregar em Chipre a carga de militantes e suas armas, protegidos por observadores internacionais, não pareceu ser operação que necessitasse de proteção especial. Mas, nas primeiras horas da madrugada, fomos parados em alto mar, por embarcação não identificada, super armada, e evidentemente de israelenses. Aparentemente, os israelenses suspeitavam que os combatentes da OLP tivessem deixado as armas na barca, para que fossem reintroduzidas clandestinamente em Beirute.

Assim, invadiram uma barca que transportava comida, remédios e roupas, de missão humanitária chefiada por um judeu, acompanhado por mais dois cidadãos norte-americanos e judeus, um dos quais tinha contatos importantes dos dois lados: tanto dentro do governo de Israel quanto na comunidade de judeus norte-americanos. De fato, tínhamos “testemunhas” de tudo o que ali acontecesse.

Decidi que estávamos sendo atacados por piratas (quem, se não piratas, em barco armado e sem bandeira, abordam barca-transportadora, de madrugada, em pleno mar?). E perguntei ao comandante, quando ele e um grupo armada abordaram nossa barca: “Sua mãe sabe que o senhor é pirata, capitão?” Ele respondeu imediatamente, sem pausa: “Você é judeu. Só um judeu, nessa região, se atreveria a me dizer isso.” Eu disse a ele que nossa equipe não incluía militares, que estávamos em missão de ajuda humanitária e que um alto funcionário da embaixada dos EUA no Líbano revistara a carga e tinha em mãos uma cópia do manifesto-de-carga embarcada. Ele reuniu seus homens, voltaram todos aos seus barcos e partiram.

Relembrei tudo isso, 28 anos depois, ao saber que uma flotilha de seis barcos, transportando 800 voluntários, acabava de ser abordada e atacada em águas internacionais, ao aproximar-se da costa de Gaza, onde esperava entregar centenas de toneladas de material de ajuda humanitária. Hoje, Israel tenta justificar o assassinato de pelo menos nove pessoas (civis, voluntários) que ali viajavam, ferimentos em muitas outras, e prisão-sequestro de centenas. Diz que o ataque de pirataria não foi autorizado pelo governo de Israel. O ataque ocorreu em águas internacionais, em ponto distante 75 milhas náuticas da costa de Gaza.

Minha experiência de quem já levou ajuda humanitária a 99 países, ao longo de 31 anos, me autoriza a dizer, sem hesitar, que entregar qualquer tipo de ajuda na Cisjordânia/Gaza/Palestina é missão extremamente difícil. Não bastasse o governo israelense não autorizar e bloquear qualquer tipo de ajuda humanitária aos palestinos, também já obriga o Egito – que covardemente obedece –, a fechar a fronteira sul de Gaza.

A situação geral é mais grave hoje, do que no domingo passado. Os dois lados endureceram. Israel pode ter queimado absolutamente as boas relações que a ligavam à Turquia (e esse efeito não muda, tenha sido a ação pirata autorizada, ou não, pelo governo Netanyahu); o governo Obama – preso como refém, hoje, no ciclo eleitoral (e da dependência do dinheiro-de-campanha dos doadores judeus norte-americanos) – nada fará que altere o antiquado padrão de Washington; os europeus dificilmente aprovarão sanções contra Israel por prática de crimes seriais; tampouco criticarão Estados árabes que também apoiam atos de violência. Não há hoje qualquer, nem remota, possibilidade de paz naquela região.

* Richard Walden é presidente da ONG “Operation USA”

Agora, estamos todos sitiados em Gaza

2/6/2010, Pepe Escobar, Asia Times Online - http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LF02Ak02.html
Imaginem se fossem comandos mascarados iranianos, atacando uma frota multinacional de seis barcos carregados com materiais de ajuda humanitária, em águas internacionais. EUA, União Europeia e Israel, fariam desabar uma avalanche apocalíptica de “choque e horror” sobre o Irã.
Em vez disso, foram israelenses mascarados; e perpetraram um golpe de diplomacia-de-assalto e assassinato na calada da noite – de ‘autodefesa’ –, em águas internacionais, a cerca de 130 km do litoral de Gaza.
E se fossem piratas da Somália? Não, não. São piratas israelenses, combatendo nebulosos “terroristas” muçulmanos. E pouco importa que a opinião pública no mundo árabe, os turcos, a Europa e todos os países em desenvolvimento estejam furiosos. E daí, que estejam furiosos? Israel sempre se safa, mesmo quando comete – como os turcos estão dizendo – “assassinatos” (e também quando pratica atos de “terrorismo de Estado”, nas palavras do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan da Turquia).
Cenas filmadas no convés do barco turco “Mavi Marmara” – que estão rodando o mundo, mas são quase invisíveis nas redes norte-americanas – não permitem qualquer dúvida sobre o que aconteceu. Comandos vestidos de negro, em trajes à prova de bala, armados até os dentes, israelenses, claro, abordaram o comboio de barcos em infláveis de alta velocidade, detonaram granadas de efeito moral e gás lacrimogêneo e atiraram a esmo, munição real, contra tudo o que viam –, e um helicóptero militar sobrevoava os barcos. A certa altura, ouve-se o comandante turco do Marmara dizer, em inglês: “Ninguém tente qualquer resistência. Estão armados com munição [real].”
Ah, a “resistência”... A agência Debka, de fato, agência-máquina de distribuir falsas notícias, comandada pelo centro de inteligência digital do governo de Israel, descreveu os ativistas que viajavam como “armados com bombas, granadas de efeito moral, vidro quebrado, estilingues, barras de ferro, machadinhas e facas.” E para os comandos israelenses? Sobrou o quê? Pistolinhas de paintball?
E aí está – Monty Python mais um vez, tragicamente remixed para o século 21. As mais bem treinadas “forças especiais” do planeta, assaltam um barco no meio do mar, no meio da noite; e só queriam “conversar”. Mas foram atacados por um bando de terroristas armados com machadinhas e facas, num barco turco, abarrotado de remédios, sacos de cimento, material escolar, comida, purificadores de água, brinquedos – para 1,5 milhões de gazenses que estão morrendo morte lenta sob bloqueio de Israel já há três anos... porque elegeram democraticamente um governo do Hamás.
A agência Debka lamenta, só, que o exército de Israel [ing. Israel Defense Forces (IDF)] – “famoso pela capacidade no campo da eletrônica militar de inovação” – não tenha conseguido impedir a distribuição de sinais eletrônicos, de forma que continuaram a jorrar, dos barcos, texto e imagens enviadas de dentro. Melhor seria, comenta a Debka, que o mundo nada visse. A Debka também lamentou que o ataque tenha ocorrido em águas internacionais: “a zona de bloqueio começa a 20 milhas náuticas de Gaza. Acontecesse ali, seria mais fácil justificar a abordagem.” Obviamente, sabem que Israel não tem qualquer direito, pela lei internacional, nem dentro das tais 20 milhas náuticas, que são território de Gaza, sob ocupação ilegal de Israel.
“Estamos sofrendo muito...”
Ninguém suplanta Israel, em matéria de duplifalar a língua orwelliana do “guerra-é-paz”. Não só os comandos terroristas israelenses foram apresentados como vítimas.
Todo o mundo está sendo alvo, hoje, de um black-out de notícias, orquestrado por Israel. Ninguém sabe com certeza quantos civis morreram (nove, 19 ou 20? A maioria turcos? Talvez dois argelinos? Algum norte-americano ou europeu?) Ninguém sabe se tinham ou não tinham “armas”. Ninguém sabe em que momento os comandos israelenses perderam a cabeça, enlouqueceram e puseram-se a atirar contra tudo e todos (há testemunhas que falam de pessoas assassinadas nas próprias camas, dormindo).
Todos os passageiros, várias centenas, que viajavam nos barcos – muçulmanos, cristãos, diplomatas, funcionários de organizações não-governamentais, jornalistas – foram, de fato, sequestrados pelos comandos israelenses. Ninguém sabe exatamente onde estão.
No rádio, só estática. Hoje, só alguns milhares de “porta-vozes” de Israel controlam toda a informação, em todo o mundo.
Nas palavras de Avital Liebovitch, porta-voz do exército de Israel, chamando a atenção para a felicidade que foi os comandos estarem lá “com aquelas armas” para se defenderem! (Em Israel, hoje, estão sendo saudados como “bravos heróis”).
E por aí vai, a novilíngua de Israel. “Terroristas” do Hamás vestidos como pessoas comuns, ocuparam aqueles barcos e acorreram às praças no mundo, só para aparecerem na televisão como “manifestantes” em “manifestações” internacionais. Nos barcos, usaram outros manifestantes como escudos humanos. E abriram fogo contra os comandos mascarados israelenses.
Assessor do ministro dos Negócios Exteriores Daniel Ayalon, por exemplo, disse que o comboio é “uma armada movida a ódio e violência, a serviço da al-Qaeda”. Como se o Hamás e a al-Qaeda tivessem mudado de ramo e, agora, ganhassem a vida no contrabando de cimento, suco de laranja e brinquedos chineses.
Absolutamente não importa, em nenhuma das versões israelenses, que a Organização Mundial da Saúde, em relatório recente, tenha insistido em que Gaza, hoje – por causa do bloqueio israelense e ilegal que a frotilha tentava romper – está a caminho da pobreza absoluta, desemprego absoluto, absoluta falta de remédios e equipamentos médicos e está, literalmente, sendo assassinada, morta por fome; não menos de 10% dos gazenses, a maioria crianças, estão fisicamente condenadas a não crescer normalmente, por efeito da desnutrição.
Os comandos mascarados israelenses que assaltaram os barcos estavam, ali, defendendo o bloqueio ilegal de Gaza. Trata-se disso.
Judeus progressistas, vivam onde viverem, são os primeiros a admitir que a Israel de hoje vive sob governo de extrema-direita, paranoicos, convencidos de que são vítimas de uma guerra global de propaganda. Por isso a eterna sempre mesma mensagem dirigida ao mundo – convenientemente envelopada em dólares dos contribuintes norte-americanos. Calem a boca! Shut up. As vítimas somos nós! Nós sempre somos as vítimas. E quem não concorda é antissemita.
O bobo na Colina
Para felicidade de Israel, sempre há a terra pátria original da liberdade, terra de bravos. Só grandes fatias da população dos EUA, hoje, estão clamando por sanções contra o Irã e a RPDC, ao mesmo tempo em que fecham os olhos para o genocídio em que Israel trabalha, metodicamente, dia após dia, no Gulagisraelense.
E só há um local, em todo o planeta, onde ainda há quem creia na narrativa vitimária de Israel (“somos as vítimas! Os judeus sempre são as vítimas!”) – vítimas, os israelenses, de uma frota de ativistas desarmados. Esse único local do mundo onde essa mentira ‘cola’ é o Congresso dos EUA. O Departamento de Estado dos EUA, em nota oficial, praticamente já processou, julgou e condenou os militantes pacifistas.
Quanto ao presidente Barack Obama dos EUA, até aqui se manteve tão mudo e invisível (imobilizado? Embaraçado? Assustado?) quanto nas primeiras semanas do vazamento do petróleo da BP no Golfo do México. A Casa Branca, de produção própria, só conseguiu “lamentar muito as mortes”. E nada disse contra Israel.
O israelense-em-chefe dentro da Casa Branca, Rahm Emanuel, em visita a Israel semana passada, convidara o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a visitar Obama, para fazer as pazes com Obama. O convescote estava previsto para essa 4ª-feira. Ontem, 2ª-feira, Netanyahu cancelou a viagem.
Diz-se em Washington que Obama, agora, esquecerá a questão das novas construções exclusivas para judeus na Cisjordânia e as abomináveis condições em que vivem os palestinos no Gulag de Gaza, tudo esquecido para sempre, em troca de um dinheiro extra, crucialmente necessário para que os Democratas vençam as eleições legislativas de novembro próximo. Obama esquece, e os doadores judeus metem a mão no bolso. Depois do massacre da madrugada da 2ª-feira, não há dúvidas de que o dinheiro aparecerá: basta que Obama não ultrapasse o limite da lamentação de mortes, e pronto.
Mais uma vez, Obama – pobre Obama, infeliz Obama! – é emasculado, tratado como satrapa de República de Bananas; e Netanyahu canta-de-galo, patético travesti da música Macho-macho-man, do [grupo] The Village People.
Dado que os barcos da frota humanitária viajavam sob bandeiras turca, grega e irlandesa, os comandos israelenses, de fato, atacaram um microcosmo-amostra da verdadeira “comunidade internacional” de carne e osso e sangue. – Netanyahu está sossegado, certo de que, mais uma vez, Israel se safará.
Presidente, presidente... Como é fazer o papel de bobo da Colina em Washington?
E quanto a nós, o resto do mundo, como é, fazermos também nós o papel de bobos da Colina – exceto países que, como Brasil, Rússia, Índia e China, mais Turquia, França e Espanha, podem manifestar-se livre e claramente, com horror, sobre o assalto israelense?
Há algo que podemos fazer – possibilidade que já se discute em algumas poucas latitudes: boicotar produtos israelenses, ou impor sanções a Israel. Ferir a economia deles. Isolá-los diplomaticamente. Se, para a maioria dos israelenses, todo o mundo é seu inimigo – governos, organizações, ONGs, agências de socorro humanitário, opinião pública – porque não os fazer experimentar o próprio remédio?

A patologia do sionismo

Sorry, mas vai em inglês mesmo. Pra quem lê na língua pátria de Blake, realmente aconselho a leitura.
Basicamente, fala sobre o direito dos palestinos a lutarem por uma sobrevivência digna. E sobre o discurso de não-violência (Palestinian Gandhi).


The Pathology of Zionism

UPDATE 2: Yesterday, there was yet another example of how Israel deals with non-violent protest:

An American solidarity activist was shot in the face with a tear gas canister during a demonstration in Qalandiya, today. Emily Henochowicz is currently in Hadassah Hospital in Jerusalem undergoing surgery to remove her left eye, following the demonstration that was held in protest to Israel’s murder of at least 10 civilians aboard the Gaza Freedom Flotilla in international waters this morning.

21-year old Emily Henochowicz was hit in the face with a tear gas projectile fired directly at her by an Israeli soldier during the demonstration at Qalandiya checkpoint today. Israeli occupation forces fired volleys of tear gas at unarmed Palestinian and international protesters, causing mass panic amongst the demonstrators and those queuing at the largest checkpoint separating the West Bank and Israel.

They clearly saw us, said Sören Johanssen, a Swedish ISM volunteer standing with Henochowicz. They clearly saw that we were internationals and it really looked as though they were trying to hit us. They fired many canisters at us in rapid succession. One landed on either side of Emily, then the third one hit her in the face.

UPDATE 1: We Are All Gazans Now


INITIAL POST: From Max Ajl of Jewbonics, reporting from Gaza:

Before the attack, Israeli spokespeople and statesmen had sedulously tried to paint the flotilla in the colors reserved for scoundrels and terrorists. "Israel … invited the flotilla organizers to use the land crossings ... however, they're less interested in bringing in aid than promoting their radical agenda and playing into the hands of Hamas provocations…. [The organizers have] wrapped themselves in a humanitarian cloak, but engage in political propaganda," said Foreign Ministry spokesman Yigal Palmor. Avigdor Lieberman, the Israeli foreign minister, said that "the flotilla is an attempt at violent propaganda against Israel, and Israel will not allow a violation of its sovereignty at sea, in the air or on land." The flotilla carried hundreds of wheelchairs for crippled Gazans and a dental clinic for Al-Shifa Hospital.

The pattern of mind is one that views resistance as terror, self-defense as murder and pacifism as violence. Such a mindset cannot admit to the possibility of a legitimate or just challenge. So nonviolent sailing ships transmute to violent propagandists, "an Armada of hate and violence," as Ayalon described the Freedom Flotilla. International Solidarity Movement activists become human shields for bomb-planters, and the Palestinian resistance gets locked up in prison - there are about 7,000 Palestinian prisoners in Israeli jails; they make up 50 percent of the prison population. There are hundreds more in administrative detention. Israeli Arab lawmakers who contest Israeli apartheid are bludgeoned with politically motivated indictments and forced into exile, as Azmi Bishara was. Palestinian lawmakers and civil society leaders are locked in penitentiaries and tortured there, as Ameer Makhloul, the chairman of the Popular Committee for the Defense of Political Freedoms and the director of Ittijah, an umbrella group of hundreds of civil society organizations, has reportedly been. The tacit presumption is that Palestinian resistance is inherently illegitimate. The corollary is that Palestinians and their supporters have no right to resist Israeli actions. So when they defend themselves from corsairs intent on commandeering their ships, "They are directly responsible for the violence and the deaths that [occur]," as Israeli army spokesman Mark Regev comments. They should just take it.

Ajl has written an excellent article for Truthout that should be read in its entirely.

Perhaps, the attack upon the aid convoy provides some insight as to why liberal exhortations for a Palestinian Gandhi are so naive and condescending:


We Palestinians are often asked where the Palestinian Gandhi is and urged to adopt nonviolent methods in our struggle for freedom from Israeli military rule. On April 17 [2009], an Israeli soldier killed my good friend Bassem Abu Rahme at a nonviolent demonstration against Israeli confiscation of Palestinian land. Bassem was one of many Palestinian Gandhis.

One month prior, at another demonstration against land confiscation, Israeli soldiers fired a tear-gas canister at the head of nonviolent American peace activist Tristan Anderson from California. Tristan underwent surgery to remove part of his frontal lobe and is still lying unconscious in an Israeli hospital. In 2003, the Israeli military plowed down American peace activist Rachel Corrie with a Caterpillar bulldozer as she tried to protect a civilian home from demolition in Gaza. Shortly thereafter, an Israeli sniper shot British peace activist Tom Hurndall as he rescued Palestinian children from Israeli gunfire. He lay in a coma for nine months before he died.

Despite the killing of these unarmed civilians and documented evidence of systematic human-rights abuses, the U.S. continues to supply Israel with approximately $3 billion in military aid annually, allowing Israel to continue abusing Palestinians and preventing any meaningful resolution to the Palestinian-Israeli conflict.

The Israeli government orders the confiscation of Palestinian land for one of two main purposes: to build or expand illegal colonies or to construct the Wall that the International Court of Justice ruled illegal in 2004. In the case of Bassem's village of Bil'in, even the Israeli Supreme Court ordered the Israeli government to change the route of the Wall, though Israel has yet to comply. Consequently, Palestinian farmers cannot reach their crops and they are devastated economically. Israel's policy is intended to force Palestinians to give up and leave in order to survive.

When village residents gather weekly to protest, they use various creative methods of nonviolent resistance, including carrying mirrors up to the soldiers to show them "the face of occupation" or dressing as various politicians and wearing blindfolds to symbolize the world's blind eye to their struggle. The Israeli military meets them and their Israeli and international supporters with tear gas, grenades, and bullets.

-
Of course, one of the necessary preconditions for a successful campaign of civil disobedience is the prospect that people around the world will respond to any violence used against the participants and compel the perpetrators to acknowledge their demands. To date, that response has been absent, and Israel is a country where much of the populace celebrates the use of violence as a means of asserting their social identity, as is now happening in response to the attack. Such a celebration is quite tragic for the Israelis as well, but, for now, the primary victims of it are the Palestinians, as they have always been.

If there is a contemporary nation state that readily confirms the anarchist condemnation of them, it is Israel and, of course, the US, which has a similar public relationship to the uses of violence for the purpose of achieving social cohesion. To lecture the Palestinians about how they would have already obtained their own state over 20 years ago, as Michael Tomasky does in the article linked above, is not only comical, but an insult to a people that have been subjected to extreme military violence every time that they have dared to organize collective resistance. No doubt the state that he envisions is one in which every important decision related to Palestinian life is one that must be pre-approved by Israel.

### posted by Richard

do blog American Leftist

Coluna no Jornal Agora de 02/06/2010

charge de Lorde Lobo, no Agora de 02/06/2010


A coluna de hoje vai toda “dedicada” aos graves acontecimentos da madrugada de segunda-feira, no Mediterrâneo. Não por eu ter ido até às 4h30min da manhã do dia 31 acompanhando – primeiro, com aflição e, mais tarde, com indignação - o desenrolar da jornada da Flotilha da Liberdade. Mas sim por acreditar - embora opiniões contrárias - que este tema tem, sim, a mais alta relevância mesmo aqui, onde estamos milhares de quilômetros e “idiomaticamente” tão distantes.



Naquele dia, a mídia internacional (com exceção da Al-Jazeera) dormia, enquanto na internet, através do twitter e de alguns blogs, a comunidade internacional acompanhava a corajosa jornada de seis embarcações, levando víveres à população sitiada de Gaza. A intenção, lógico, era bem maior: quebrar o desumano bloqueio montado por Israel, desde 2008. Foi pelo twitter que soube, praticamente na hora, que comandos da IDF (Forças Israelenses de Defesa) haviam abordado uma das embarcações e fuzilado covardemente ao menos 10 pessoas. Só quase duas horas mais tarde a BBC, a AP e a Reuters noticiaram. A americana CNN demorou ainda mais.



No dia seguinte, a internet ainda foi o principal campo de disseminação da indignação mundial. O Google marcava, em um único dia, 65 milhões de “web objects” produzidos com a palavra “Flotilla” e 137 milhões com “Gaza”. Só isso já ajuda a indicar o tamanho do crime cometido pela atual administração terrorista de Israel.



IDF, grafado assim, com iniciais maiúsculas, me parece um nome pomposo demais para um grupo que se especializou em assassinar mulheres, crianças e civis desarmados.



Alemães, suecos, norte-americanos, uma brasileira... Várias nacionalidades a bordo. Desta vez, os sionistas não se contentaram em agredir apenas os vizinhos no Oriente Médio. O mundo todo foi insultado. A resposta - mais por parte das populações do que de seus governos - foi na forma de protestos indignados. Resposta essa que parece pouco, mas não é.



O fato de o ataque ter ocorrido em alto-mar coloca Israel em uma situação bem mais complicada. Se os soldados atiraram sob ordens do Estado, então se pode considerar uma situação bélica entre aquele país e a Turquia, já que a embarcação abordada e atacada era de bandeira turca. E o ato deveria ser visto como crime de guerra, em afronta à Convenção de Genebra. Por outro lado, se Israel se omitir e responsabilizar unicamente os soldados, então estes teriam que ser entregues para responder por homicídio, e segundo as leis turcas - uma vez que a jurisdição dentro de um navio em águas internacionais é do país sob qual bandeira navega.



A propósito, em qual lei Israel se baseia para invadir um navio estrangeiro, em alto-mar, e lá agir com pretenso poder de polícia, "prendendo" (sequestrando) cidadãos de diversas nacionalidades? Em qual lei? E a comunidade internacional vai legitimar (silenciando sobre) isso?



O ataque a um navio sul-coreano, supostamente por um torpedo norte-coreano, suscitou histeria na comunidade internacional, com tambores de guerra e pedidos de sanções, capitaneados pela enfraquecida (não obstante tente demonstrar poder) secretária de Estado Hillary Clinton. No entanto, igual reação não se tem agora, apesar do crime com autoria fartamente documentada, com bem mais do que digitais sionistas. Mas não, o tratamento (dos governos e da mídia) agora é de uma complacência nauseante!



Quem sabe o comportamento sionista seja melhor explicado como sendo resultante de uma Síndrome de Estocolmo, pela qual as atitudes nazis passam a ser reverenciadas e copiadas pelo ex-vitimado. Seria caso de "transferência de patologia"?



Israel atira com metralhadoras à queima-roupa contra ativistas desarmados; Israel queima crianças em Gaza com fósforo branco; Israel passa por cima de uma pacifista norte-americana (Rachel Corrie, que dá nome a um dos navios da flotilha) com um bulldozer; Israel dispara mísseis contra escolas infantis. Israel tem arma nuclear! E depois nos dizem pra termos medo dos iranianos?



Independente de qualquer análise específica sobre o fato em si, tudo isso teria sido evitado se Israel seguisse as recomendações da ONU de acabar com o desumano bloqueio que mata lentamente a população de Gaza.



Cynthia McKinney, que concorreu à presidência dos EUA pelo Partido Verde, em 2008, encerrou manifestação sobre este massacre assim: “Um amigo acaba de me enviar uma mensagem, dizendo que os israelenses perderam completamente a noção. (...) De outro modo, eu poderia sugerir que somos nós que perdemos a razão, perdemos nossas almas, nossos espíritos e nossa dignidade humana, ao permitirmos que os israelenses sigam assassinando impunemente, sem fazermos nada”.