charge de Lorde Lobo, no Agora de 02/06/2010
A coluna de hoje vai toda “dedicada” aos graves acontecimentos da madrugada de segunda-feira, no Mediterrâneo. Não por eu ter ido até às 4h30min da manhã do dia 31 acompanhando – primeiro, com aflição e, mais tarde, com indignação - o desenrolar da jornada da Flotilha da Liberdade. Mas sim por acreditar - embora opiniões contrárias - que este tema tem, sim, a mais alta relevância mesmo aqui, onde estamos milhares de quilômetros e “idiomaticamente” tão distantes.
Naquele dia, a mídia internacional (com exceção da Al-Jazeera) dormia, enquanto na internet, através do twitter e de alguns blogs, a comunidade internacional acompanhava a corajosa jornada de seis embarcações, levando víveres à população sitiada de Gaza. A intenção, lógico, era bem maior: quebrar o desumano bloqueio montado por Israel, desde 2008. Foi pelo twitter que soube, praticamente na hora, que comandos da IDF (Forças Israelenses de Defesa) haviam abordado uma das embarcações e fuzilado covardemente ao menos 10 pessoas. Só quase duas horas mais tarde a BBC, a AP e a Reuters noticiaram. A americana CNN demorou ainda mais.
No dia seguinte, a internet ainda foi o principal campo de disseminação da indignação mundial. O Google marcava, em um único dia, 65 milhões de “web objects” produzidos com a palavra “Flotilla” e 137 milhões com “Gaza”. Só isso já ajuda a indicar o tamanho do crime cometido pela atual administração terrorista de Israel.
IDF, grafado assim, com iniciais maiúsculas, me parece um nome pomposo demais para um grupo que se especializou em assassinar mulheres, crianças e civis desarmados.
Alemães, suecos, norte-americanos, uma brasileira... Várias nacionalidades a bordo. Desta vez, os sionistas não se contentaram em agredir apenas os vizinhos no Oriente Médio. O mundo todo foi insultado. A resposta - mais por parte das populações do que de seus governos - foi na forma de protestos indignados. Resposta essa que parece pouco, mas não é.
O fato de o ataque ter ocorrido em alto-mar coloca Israel em uma situação bem mais complicada. Se os soldados atiraram sob ordens do Estado, então se pode considerar uma situação bélica entre aquele país e a Turquia, já que a embarcação abordada e atacada era de bandeira turca. E o ato deveria ser visto como crime de guerra, em afronta à Convenção de Genebra. Por outro lado, se Israel se omitir e responsabilizar unicamente os soldados, então estes teriam que ser entregues para responder por homicídio, e segundo as leis turcas - uma vez que a jurisdição dentro de um navio em águas internacionais é do país sob qual bandeira navega.
A propósito, em qual lei Israel se baseia para invadir um navio estrangeiro, em alto-mar, e lá agir com pretenso poder de polícia, "prendendo" (sequestrando) cidadãos de diversas nacionalidades? Em qual lei? E a comunidade internacional vai legitimar (silenciando sobre) isso?
O ataque a um navio sul-coreano, supostamente por um torpedo norte-coreano, suscitou histeria na comunidade internacional, com tambores de guerra e pedidos de sanções, capitaneados pela enfraquecida (não obstante tente demonstrar poder) secretária de Estado Hillary Clinton. No entanto, igual reação não se tem agora, apesar do crime com autoria fartamente documentada, com bem mais do que digitais sionistas. Mas não, o tratamento (dos governos e da mídia) agora é de uma complacência nauseante!
Quem sabe o comportamento sionista seja melhor explicado como sendo resultante de uma Síndrome de Estocolmo, pela qual as atitudes nazis passam a ser reverenciadas e copiadas pelo ex-vitimado. Seria caso de "transferência de patologia"?
Israel atira com metralhadoras à queima-roupa contra ativistas desarmados; Israel queima crianças em Gaza com fósforo branco; Israel passa por cima de uma pacifista norte-americana (Rachel Corrie, que dá nome a um dos navios da flotilha) com um bulldozer; Israel dispara mísseis contra escolas infantis. Israel tem arma nuclear! E depois nos dizem pra termos medo dos iranianos?
Independente de qualquer análise específica sobre o fato em si, tudo isso teria sido evitado se Israel seguisse as recomendações da ONU de acabar com o desumano bloqueio que mata lentamente a população de Gaza.
Cynthia McKinney, que concorreu à presidência dos EUA pelo Partido Verde, em 2008, encerrou manifestação sobre este massacre assim: “Um amigo acaba de me enviar uma mensagem, dizendo que os israelenses perderam completamente a noção. (...) De outro modo, eu poderia sugerir que somos nós que perdemos a razão, perdemos nossas almas, nossos espíritos e nossa dignidade humana, ao permitirmos que os israelenses sigam assassinando impunemente, sem fazermos nada”.
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