Acabada a tal “festa da democracia”, agora é hora de limpar o salão. E isso inclui, pelo que se observa das declarações do ministro Mantega, corte de gastos. Segundo o homem, o momento é de rever o Orçamento e frear alguns investimentos que haviam, em “boa hora”, sido prometidos. Mantega admite que os cortes podem afetar obras contidas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas disse que apenas aqueles que ainda não se iniciaram. Então é esperar pra ver se, por exemplo, a festejada duplicação da BR-392 vai ser mantida no mesmo ritmo do período eleitoral ou se o governo que entra chegará dando tiro no pé.
Segundo o ministro, a economia está aquecida o suficiente e, por isso, não precisaria de tantos incentivos estatais. Seria a hora de a iniciativa privada entrar no jogo, enquanto o Estado desacelera. Mas o que preocupa é justamente esse aquecimento da economia, se levados em conta os gargalos em infraestrutura do país. Com o país crescendo, e com Copa do Mundo e Olimpíadas pela frente, será mesmo hora de frear os investimentos prometidos e planejados dentro do PAC (portos, aeroportos, transportes de massa)? Não existem outros gastos mais apropriados para serem enfrentados?
Voltando ao tema WikiLeaks, até que demorou para as superpotências (que, diga-se de passagem, já tiveram mais superpoderes, né?) começarem a enquadrar o “megavilão” de cabelos prateados que responde pela alcunha de Julian Assange. A fórmula do ataque foi a mesma de sempre: uso da mídia para mostrar o “grau de vilania” do sujeito, pressão sobre bancos para cortar-lhe financiamentos e sobre empresas (no caso, provedores de internet) para isolá-lo. E, por fim, o golpe de mestre: um processo judicial não pelos vazamentos de dados comprometedores (já que censurar informações pega mal), mas por suposto estupro, em que as provas são os testemunhos das garotas.
Ironia das ironias, a americana Amazon (que tem na venda de livros a sua origem) foi a primeira empresa a encarnar o servilismo e vetar o WikiLeaks em seus servidores de hospedagem.
Pra não dizerem que somente critico a grande mídia, aí vai um elogio (acho que é o espírito de Natal que já baixa em mim). Excelente o Globo Repórter da semana passada, no qual a jornalista Ilze Scamparini mostrou como algumas cidades italianas estão resgatando o bem-viver, em um movimento chamado “slow cities”. Pena constatar que cidades como a nossa, com um trânsito cada vez mais caótico (em um misto de falta de competência para o planejamento e falta de vontade para impor políticas alternativas de transporte) e poluição em descontrole, tomaram justamente o caminho oposto.
Quase ouso dizer que o governo Obama já é a maior decepção da história da política norte-americana. De tudo o que dele se esperava, só se recebe o inverso. Mas, arrisco, o pior desempenho é mesmo na sua política externa. O vazamento de informações que comprovam que os EUA foram manipulados pela inteligência israelense só tornam ainda mais patética a posição ianque de continuar bancando Tel-Aviv, com armas e muito dinheiro. Não à toa a Secretária de Estado americana Hillary Clinton (prevendo o melancólico fim de carreira) já anunciou que abandona a vida pública após terminar seu mandato.
Dezembro iniciou com uma importante notícia em nível mundial: o governo brasileiro reconheceu oficialmente o Estado Palestino dentro das fronteiras pré-1967 (o que inclui a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, ilegalmente ocupadas por Israel desde então). Ao anúncio brasileiro - país já elevado à potência emergente – seguiram-se os de Argentina e Uruguai. Os três, assim, juntam-se a mais de uma centena de países com o mesmo entendimento. Tudo indica que isto deixa os EUA de Obama em situação ainda mais frágil para vetar uma provável nova resolução da ONU neste sentido.
O que se discute não é o que pensa Israel (isso todo mundo já sabe), mas sim o que considera o mundo. E o direito internacional é claro neste caso. Desde 1967, quando Israel invadiu e anexou os territórios palestinos, o que se vê é claro desrespeito às convenções assinadas por líderes mundiais. A Quarta Convenção de Genebra, por exemplo, proíbe a uma potência ocupante remover populações nativas de uma área ocupada (limpeza étnica), transferir seus civis ao território ocupado (os assentamentos ilegais) e anexar terras ocupadas ao seu próprio território. Israel viola sistematicamente todas as três proibições, incorrendo assim em graves crimes de guerra no âmbito daquele tratado. O mais irônico, contudo, é lembrar que a Quarta Convenção de Genebra, de 1949, foi baseada justamente nos tribunais de Nuremberg, que julgaram a crueldade nazista contra judeus e outros povos.
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