terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mídia ao Avesso (coluna no Jornal Agora de 15/dez)

É impressionante como os discursos de direitos humanos, como dignidade e liberdade de expressão, sempre invocados pelos países que se intitulam xerifes do mundo para justificar sanções e ataques contra nações menores, andam queimando a língua de muita gente (dita) boa por aí. Os EUA criticam o regime cubano e as prisões políticas (seriam 115 presos por lá, segundo a Comissão Cubana de Direitos Humanos, ou apenas um, segundo a Anistia Internacional), porém o país de Obama mantém mais de 170 presos em Guantánamo, sem sequer um processo formal. Os mesmos EUA criticam a pena de morte dada à iraniana Ashtiani, acusada pelo homicídio do marido, mas 53 mulheres aguardam por seus carrascos nos corredores da morte de prisões americanas.
Agora, apesar de históricos discursos em prol da liberdade de expressão, alguns países ocidentais escorregam na armadilha da arbitrariedade e apelam para táticas nada honrosas com o fim de sufocar o site WikiLeaks, que nada mais fez do que expor como pensa a diplomacia norte-americana. No mais puro estilo "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço", alguns governos resolveram criminalizar Julian Assange como forma de sufocar o site, além de erguer bandeiras (da Visa e da Mastercard???) para pressionar empresas com ligação com o site como meio de neutralizá-lo.
Para mostrar que ainda permitem a livre expressão, o jornal Washington Times permitiu que seu colunista Jeffrey T. Kuhner publicasse a seguinte pérola: “Devemos tratar o sr. Assange da mesma forma que outros valiosos alvos terroristas: matá-lo”. Aí pode, né?
Como bem apontou o jornal The Guardian, Visa e Mastercard (que bloquearam doações via cartão para o WikiLeaks) permitem alegremente repasses para a Ku-Klux-Klan e seus racistas de lençol e fronha branca na cabeça.
E o Serra, hein? Segundo diplomatas ianques, o cara que “era do bem” prometeu às empresas estrangeiras as regras que elas quisessem para sugar o pré-sal brasileiro, como um belo milk-shake de petróleo. Que (sem) vergonha!
De acordo com os números do Twitter, Dilma foi mais comentada em 2010 (em 2º lugar entre as personalidades) do que Lady Gaga (em 3º). A presidente eleita bateu também o "homem-bomba" Julian Assange (4º), que explodiu embaixadas usando apenas as próprias palavras dos diplomatas. Mas ninguém foi mais citado do que o onipresente Justin Bieber. O guri que é primeiríssimo nas paradas de sucesso também liderou no microblog. Tem gosto pra tudo, mesmo.
No ranking de Notícias, parece que os tuiteiros andavam um pouco mais engajados. O vazamento de óleo da BP ficou no topo, seguido pelo terremoto no Haiti e pelas enchentes no Paquistão. O único tema que pendeu à futilidade entre os dez primeiros da lista foi o noivado do príncipe Williams. E só no 9º lugar.
Assunto mais indigesto, sobretudo para a maioria da mais alta corte do judiciário brasileiro, é o da responsabilização criminal dos militares que sequestraram, torturaram e mataram durante o regime militar. Processados e condenados em países como Uruguai, Argentina e Chile, no Brasil os torturadores foram anistiados, com a bênção do STF. Agora, já que as autoridades brasileiras lavaram as mãos no caso da "ditabranda", caberá à Corte Interamericana de Direitos Humanos (órgão da Organização dos Estados Americanos) julgar o país. O Brasil, como signatário de diversos tratados no âmbito da OEA, deverá passar pela vexatória situação de se ver pressionado externamente a defender os direitos mais básicos de seus cidadãos.
Dona por anos a fio do título de nº 1 em vendas no país, a Fiat anunciou a construção de sua segunda unidade de produção de automóveis. A fábrica, disputada também por São Paulo, será mesmo construída em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, por conta de oportuna prorrogação de um regime especial para o setor automotivo. Algo como a história da Ford, envolvendo o RS (Guaíba) e a Bahia (Camaçari). Será que a mudança fará Alckmin apanhar tanto quanto Olívio Dutra até hoje apanha por aqui?
Parece que finalmente quem usa a travessia entre Rio Grande e São José do Norte vai ser melhor atendido. Segundo informações, o novo capitão-dos-portos não teria gostado do que viu em algumas embarcações que exploram o serviço. E, ao que já se sabe, a fiscalização mais exigente não ficará restrita ao transporte apenas de passageiros. Enfim, uma boa notícia.
Gosto é que nem... braços. Cada um tem os seus. Dito isso, aproveito pra elogiar a decoração de Natal deste ano no Cassino. Após dois anos de enfeites medonhos, agora cabe dar os parabéns. Simples, porém bem feita, a decoração natalina do balneário dá uma primeira impressão bastante boa aos turistas e veranistas.
Se confirmada a informação, uma das figuras há mais tempo ocupando cargo na administração municipal deve se desligar na virada do ano, para ficar apenas com seus próprios negócios na iniciativa privada.
Era pretensão demais querer ganhar um Mundial sem técnico e com Alecsandro na frente. E o que o Renan fez, na minha época, dava "justa causa". :)

Como crítico contumaz da mídia, me acho no dever de fazê-lo também quando o veículo envolvido é este em que escrevo. E, na minha opinião, é o caso hoje. Matéria da página 7 desta quarta-feira (edição impressa), sobre um senhor de 85 anos que reclama de um restaurante vizinho à sua casa é, ao meu ver, não só desnecessária como exemplo de uso inadequado do jornalismo.

Pra começar, por mais que o(a) jornalista que assina a matéria tenha ouvido os dois lados, obviamente o texto mostra desconhecimento da realidade. Declarações como a de que clientes fazem algazarra ou "urinam" na frente do local são no mínimo contestáveis, já que da "matriz" do restaurante no centro de Rio Grande jamais se ouviu reclamações deste tipo. E outras chegam ao absurdo, como a de que os entregadores de mercadoria não deveriam "passar pela calçada" (pública) da casa do reclamante.

Claro que o morador, sentindo-se incomodado, tem direito a reclamar. Mas existem as autoridades competentes para tal (devidamente acionadas, e tomando as necessárias providências, pelo que se lê). E, mesmo antes disto, existe o diálogo. E isso, lembre-se, se efetivamente os problemas se manifestarem este ano (afinal, o restaurante sequer havia aberto as portas). Só então, talvez, caberia ao jornal expor aos assinantes uma mera discussão de vizinhos.

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