segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mídia ao Avesso (coluna no Jornal Agora)


A eleição deste domingo é um marco sob muitos aspectos, além do óbvio ineditismo da chegada de uma mulher ao mais alto cargo da República. Marca a vitória do projeto político construído como um sonho alcançável pelo operário Lula da Silva, de conduzir o País a um novo patamar, com uma sociedade mais justa e menos desigual, mesmo mantendo uma certa ortodoxia na condução da economia. E, por outro lado, a ratificação da derrota de um projeto já reprovado desde 2002, encerrando lá o ciclo da política neoliberal que vendeu boa parte do País e enfraqueceu o Estado.


Mas talvez o mais retumbante som que ecoa da ampla vitória de Dilma é a tão famosa "voz do povo", que se ouviu finalmente mais alta e mais forte do que as falas dos que se diziam porta-vozes deste. A opinião pública, com a democratização da comunicação advinda da internet, deixou de ser mera "opinião publicada", manipulada por meia dúzia de veículos antes absolutos, e tornou-se forte, audível, independente e questionadora. E o resultado, de 12 pontos de vantagem, representa uma enormidade, se considerarmos o papel de principal partido opositor assumido pela grande mídia neste pleito.


O PSDB terá agora que juntar os cacos, principalmente os provenientes da ruptura entre Minas e são Paulo, as duas principais unidades controladas pelo partido. O projeto personalista de Serra passou por cima da candidatura mais viável de Aécio, único que poderia fazer alguma frente ao fenômeno Lula e sua indicada. Mas o racha não se limita à antiga região do café com leite (para os mais antigos, justamente MG e SP). O PSDB partiu-se também no Paraná (com Álvaro Dias destronado por um Indio), no Ceará (que decretou o fim da carreira de Tasso Jereissati) e no Amazonas (lá, o senador Arthur Virgilio ameaçou dar uma "surra" em Lula, mas acabou ele mesmo levando uma tunda nas urnas).


A derrota (quase empate) de Dilma no RS apesar de Tarso é menos surpreendente do que a indiscutível vitória dela em Minas (58,45% x 41,55%) apesar de Aécio. Embora, por lá, haja uma explicação: a mídia mineira, apesar de não-favorável à Dilma, foi veladamente anti-Serra. Basta lembrar editorial do O Estado de Minas, intitulado "Minas a reboque, não!", quando a campanha do tucano paulista tentou enquadrar Aécio como um mero "vice de luxo" para o imperador Serra.


Já os mais de 60% da "presidenta" Dilma em Rio Grande atestam o reconhecimento da cidade pelo projeto federal que colocou o Município de novo no rumo do desenvolvimento - após décadas de estagnação. E colocam mais pressão no governo municipal, que terá muito trabalho para dar continuidade à dinastia Branco. Afinal, não é pouca coisa lutar contra uma tendência de colocar Rio Grande, finalmente, em sintonia com os governos estadual e federal.


A primeira coisa em que políticos pensam quando acaba uma eleição é... a próxima eleição. Por isso, 2012 já começou. Em nível local, os dois principais partidos já avaliam as possibilidades. Pelo PMDB, Fábio Branco ainda pode tentar um novo mandato. Janir afirma ter abandonado a política. A vereadora-primeira-dama Lu Compiane é outra opção, que começa a ser preparada, com uma atuação correta e longe de polêmicas até agora. E pode se valer da comparação com a eleição de uma mulher para comandar o País - embora no quesito "gênero" haja também a incômoda comparação com o desastre chamado Yeda (que definitivamente não deixará saudades). Boka foi uma possibilidade. Hoje, com uma certa mágoa em relação à cúpula do partido local, dificilmente sairia indicado.


Nas bandas petistas, o nome óbvio é Alexandre Lindenmeyer. Mas isso, a despeito de garantir as maiores possibilidades de vitória, tira o rio-grandino de sua importante posição na Assembleia. Outro nome é Dirceu Lopes, derrotado nas urnas para prefeito em 2008 e para deputado federal neste ano. Parece uma aposta temerária, apesar da vontade pessoal dele. O terceiro cotado, penso eu, seria João Carlos Cousin. O reitor da Furg tem um trabalho irrepreensível como gestor da universidade, o que o qualifica à disputa. Mas ainda carece de uma maior inserção junto ao povão. Embora, ultimamente, venha aparecendo com mais frequência em eventos públicos e manifestações populares do PT.


Ao largo da polarização, aparece Cláudio Diaz. O tucano teve uma expressiva votação, mas não suficiente para lhe garantir a vaga na Câmara Federal. Ainda assim, destacou-se em sua passagem por Brasília e mostrou força ao reagrupar o partido no Estado. Certamente, foi um dos responsáveis por frear a votação de Dilma no RS. Parece hoje improvável que o PSDB seja mais uma vez coadjuvante do enfraquecido PMDB local. Tanto quanto não se vislumbra o contrário (uma chapa com PSDB na cabeça e PMDB a reboque).


Serra sai apequenado desta eleição. Mas pelo menos voltou a assumir personalidade própria. Arrogante, em seu primeiro pronunciamento incitou um clima de divisão e embate no País. "Vocês cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza", afirmou, com jargão da caserna. E deixou claro que não desistiu de seu projeto personalista: "minha despedida não é um adeus, mas um até logo".


O antídoto contra esta ameaça será o livro "Nos porões da privataria", de Amaury Ribeiro Jr. que, finda a eleição, está liberado para chegar às livrarias e contar o que a mídia até hoje escondeu. Além do próprio Aécio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Germano!

Qualquer aposta que o PT Riograndino faça que não tenha o Lindenmeyer como CANDIDATO A PREFEITO será uma aposta perdida.

Não adianta o PT daqui espernear, berrar, chorar e argumentar.
Se insistirem com Dirceu vão se F... de novo.
Se tiverem a "Brilhante" idéia de colocar o Cousin, a socada vai ser ainda maior!

O PT de Rio Grande tem mania de tirar uns Coelhos da Cartola que só eles admiram e entendem! Foi graças a isso que já lançaram as candidaturas furadas do Engelke e do Spotorno e tomaram amargamente na Bunda!!!!!

Se ficarem no Salto Alto e não coligarem com PC do B e outras forças vivas da Oposição em Rio Grande, nós vamos ver o PSDB surgir cinicamente como "Alternativa de Mudança" e emplacar MAIS DO MESMO!!

Ainda me dispus a postar nada no meu Blog sobre Política Municipal.
Mais do que isso, até proponho a quebrar a minha "Imparcialidade ácida" para apoiar o PT abertamente no Blog e fora dele em 2012; mas desde que eles desçam do salto e coloquem o Lindenmeyer como Candidato.

Não adianta o Dirceu ter "Vontade Pessoal", ter o sonho de ser prefeito. ELE não derrota "essa gente" que aí esta e corremos o risco de ver uma Lu Copiani de prefeita!
Aí sim véio...
Me mudo pras Minas Chilenas!

Abraço!