Derrotados tentam iugoslavizar o Brasil pela Internet
Mauro Carrara
Primeiramente, estes são os derrotados: o PSDB, o DEM, o PPS, as Organizações Globo, a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, a Editora Abril, a TFP, a Opus Dei, os monarquistas, os falsos pastores evangélicos liderados por Piragine, a ala reacionária do episcopado católico e parcelas privilegiadas das classes médias urbanas do centro-sul do país.
Seguindo a velha cartilha golpista, essa confusa coligação quis ver na conduta dos setores progressistas uma ameaça à democracia. Seus líderes redigiram manifestos em defesa da unidade nacional, da liberdade de expressão e da tolerância. Meteram ali as assinaturas de celebridades e sub-celebridades da direita escancarada, da direita enrustida e de três ou quatro trânsfugas do esquerdismo.
Consumada a derrota eleitoral, porém, rasgaram logo suas cartas oportunistas e passaram a fomentar uma revolução separatista no Brasil. Toda a teatral civilidade da campanha foi prontamente substituída por racismo, preconceito e incitação à violência.
De forma articulada, a reação à vitória de Dilma Rousseff logo tomou as páginas das redes sociais na Internet. Centenas de jovens (e não jovens) que militaram nos batalhões do terror cibernético serrista passaram a propugnar um processo de secessão, mirando seus canhões especialmente contra o povo das regiões Nordeste e Norte.
Puseram-se a defender ferozmente uma guerra aos moldes daquela que destroçou a Iugoslávia nos anos 90. Naquela região, vale rememorar, o transe do ódio produziu como saldo uma economia destruída, enormes legiões de mutilados paranoicos e pelo menos 100 mil mortos.
Mayara Petruso, uma estudante de Direito paulista, filha da classe média alta, comandou o movimento de perseguição ao nordestinos. Na rede de relacionamentos Facebook, escreveu o seguinte:
- Afunda Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o pais de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho para ganhar o bolsa 171.
Noutra postagem, fez apologia do crime e lamentou que a presidente eleita não tenha sido assassinada. Dilma é apelidada de “dragão” pelos grupos neofascistas da juventude serrista de São Paulo.
- Agora, passem fome, frio... É impressionante, quando precisamos de violência não a temos, pq ninguém pensou em matar o dragão?
Em outra mensagem, desta vez no Twitter, ela estimula seus pares de Internet a se juntarem numa cruzada de extermínio.
- Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado.
No dia seguinte às postagens, a jovem soube que a seção Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE) entraria na Justiça de São Paulo com representação criminal contra a onda de ataques da qual fora protagonista. Aí, pediu desculpas, desconversou...
Na verdade, fechar o foco legal sobre Mayara deve se constituir num equívoco do ponto de vista jurídico. Milhares de outros jovens participaram dessas atividades de inspiração nazista. No Twitter, um certo Maxi Franzoi, por exemplo, escreveu o seguinte:
- O dia em que as nordestinas serem as mais gatas eu viro gay. Pegar nordestina não rola. Elas nem banho tomam, não chegou o chuveiro lá ainda.
Na rede Orkut, pertencente ao Google, as mensagens bombaram na comunidade “Eu odeio o Nordeste”, cujo texto de apresentação é o seguinte:
- Essa comunidade é pra quem odeia o nordeste, uma região fudida que só tem vagabundo, corno, puta, e que não da nada pro Brasil alem de políticos corruptos e mais um montão de coisas.
Ainda no Orkut, a movimentada comunidade “Brasil”, com mais de 1,3 milhão de membros, converteu-se num centro de difusão de ódio suprematista e secessionista. Um certo Jefferson, por exemplo, abriu um tópico com os seguintes termos:
- Brasil do Norte comunista – Brasil do Sul democrata – Separatismo já.
O movimento certamente é articulado, pois toma corpo justamente em canais de Internet que difundiram massivamente calúnias contra Dilma Rousseff durante o processo eleitoral. Os avatares associados à campanha de Serra são os mesmos agora dedicados a exigir ações de segregação e extermínio.
Essas manifestações não cessaram mesmo depois que os jornais divulgaram os mapas da votação por regiões, segundo os quais a candidata do PT teria sido eleita mesmo sem os votos das regiões Norte e Nordeste.
Serra foi derrotado em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul registrou-se vantagem mínima para o tucano (50% a 49%). Mesmo em São Paulo, considerado seu principal reduto, o representante do PSDB viu sua rival receber 46% dos votos. Fechando-se mais o foco, percebe-se massivo apoio à candidatura situacionista nos bairros da periferia paulistana.
Globo como origem da distorção
Boa parte desse delírio agressivo foi estimulado pela ficção cromática criada pela Rede Globo de Televisão, que insistiu em pintar totalmente de “azul” os Estados com maioria de votos para Serra, e em “vermelho” aqueles com vantagem para Dilma. Essa representação grosseira criou uma ideia de unanimidade do centro-sul em torno da candidatura do PSDB.
Na verdade, Estados como Rio Grande do Sul e Espírito Santo podiam ter sido pintados de “roxo”, considerada a diferença mínima entre os dois candidatos. O próprio Estado de São Paulo, da furiosa Mayara, poderia ter 46% de seu território tingido de vermelho.
A distorção Global, copiada pelos jornalões paulistas, imita o modelo de representação gráfica televisiva dos resultados de eleições presidenciais norte-americanas, em que o vencedor do Estado leva todos os votos dos delegados. Uma regra eleitoral sem qualquer conexão com a realidade brasileira.
No território das redes sociais, há que se responsabilizar também o Google (Orkut), o Facebook e o Twitter, sempre cegos a esse tipo de propaganda racista ou de incitação ao ódio. Convém lembrar que a comunidade orkutiana dos inimigos do Nordeste funciona livremente desde Fevereiro.
Do ponto de vista da inspiração, o movimento tem origem nos grupos de fanáticos que tomaram a direção da campanha serrista, especialmente no sul do país e em São Paulo. Esses sabotadores virtuais procuram repetir a fórmula das “revoluções coloridas”, financiadas há uma década pelo National Endowment for Democracy (NED), dos Estados Unidos. A entidade tem como missão oferecer suporte integral a operações de desestabilização em países governados pela esquerda.
As agressões pós-eleitorais deste 2010 deixarão feridas indeléveis na alma país. Por anos e anos, gerarão acusações, atritos e ressentimentos entre irmãos brasileiros. Na cena deste delito abominável, os futuros historiadores certamente encontrarão as digitais de José Serra e de seu bando de maus perdedores.
Publicado originalmente no Grupo Beatrice
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