terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mídia ao Avesso (coluna no Jornal Agora de 17/nov))


O governo Lula foi uma merda. Luiz Carlos Prates e Lasier Martins poderiam ter simplificado assim seus comentários nos telejornais da RBS Santa Catarina e Rio Grande do Sul, respectivamente. Para Lasier, é culpa do governo federal permitir que "espertalhões" como Sílvio Santos "se apropriem de dinheiro público". Fala isso como se não soubesse que a crise no PanAmericano é de cunho privado, e que Sílvio - que comanda uma TV concorrente - cobriu o rombo dando suas empresas como garantia a um empréstimo também privado. Talvez outros donos de grandes grupos de comunicação tomassem decisões, digamos, mais ortodoxas, como deixar o rombo para o Estado. Já o Prates (que faz o mesmo papel de Lasier no JA catarinense) disse que o aumento dos acidentes de carro decorre da popularização do automóvel, "resultado deste governo espúrio [Lula], que popularizou pelo crédito fácil o carro para quem nunca tinha lido um livro [as classes mais pobres]. "Hoje, qualquer miserável tem carro", reclama, entristecido.

Assim, o sul do Brasil segue "formando" a opinião pública.

Apesar das opiniões de alguns sábios, Lula termina seus oito anos de governo com uma popularidade estrondosa, que extrapola as fronteiras do país. Pena que 83% da população brasileira seja ignorante, e não acompanhe a visão esclarecida destes poucos iluminados.

Algumas vozes discordam da política externa brasileira. Vozes das quais discordo, por ver neste ponto justamente um dos maiores legados do governo Lula. Agora mesmo, por pressão brasileira, o país conquistou junto ao G-20 aval para conter o fluxo de capital especulativo que tem sobrevalorizado o real - fazendo a festa de nós que nos abastecemos nos free-shops platinos mas ameaçando a indústria brasileira. Tá aí um cargo difícil para Dilma encontrar substituto que esteja à altura do chanceler Celso Amorim. Cargo, aliás, que não dá rima com Jobim.

Eu não arriscaria dizer o mesmo da política externa norte-americana. A intromissão militar e econômica ianque em diversas nações as quais considera estratégicas (valendo-se sempre de um cínico discurso baseado em direitos humanos) demonstra a opção pelo uso do poder e da força. Menos, é claro, quando o assunto é Israel. Agora, em troca de suspender por 90 dias as violações à lei internacional (através da colonização ilegal em território palestino), Israel receberá US$ 3 bilhões extras em ajuda militar americana (o que inclui mais 20 caças F-35).

Os EUA se comprometem ainda a bloquear possíveis (e porováveis) sanções da ONU à nação judaica, pressionar por novas sanções ao Irã e blindar o programa nuclear israelense contra investigações. A proposta indecente soa como um prêmio para um Estado que desconhece e desrespeita diariamente o direito internacional, quer queimando oliveiras de agricultores palestinos, destruindo e pilhando suas casas ou mesmo asassinando à queima-roupa ativistas em águas internacionais. E, de quebra, põe os norte-americanos de joelhos.

Além de "Nos porões da privataria" [livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., protagonista do tal dossiê "de bicudo contra bicudo", a ser lançado em breve pela editora Record], outro livro que aguardo com certa ansiedade é "O Cemitério de Praga", de Umberto Eco, recém lançado na Europa. Já polêmico, o novo livro do autor de "O Nome da Rosa" ganhou de cara a antipatia da igreja católica e da comunidade judaica. Isso, por si só, já é motivo para catapultar o interesse na obra.

Entre os dois livros, um ponto em comum: tanto Amaury Ribeiro Jr. (autor de Nos Porões...) quanto Simone Simonini (protagonista de O Cemitério...) são chegados à produção de dossiês.

Nos últimos dias, alunos de escolas particulares, em diversas partes do país, saíram às ruas em protesto. Na mira, pelo que deu para deduzir, estão políticas de inclusão que levam os negros (cotas raciais) ou os pobres (Prouni e Enem) para dentro das universidades públicas.

É bom ver o movimento estudantil de volta às ruas. Mas é interessante também ver quais bandeiras estão sendo levantadas. De todo modo, não há suspresas aqui. Não se esperava que uma mobilidade social tão grande como a que vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos acontecesse sem tensionamentos e resistências.

Espera-se que Tarso Genro resista a prováveis pressões de indicações políticas e nomeie alguém eminentemente técnico para o Porto do Rio Grande.

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