sexta-feira, 31 de julho de 2009

Democracia seletiva

A deposição forçada de Manuel Zelaya em Honduras, em 28 de junho, foi vista pelo mundo todo como um golpe de Estado. Um grave atentado à democracia. Mas, como toda unanimidade é burra, eis que surge uma voz (tá bom, uma mera vozinha), que escapa de uma estranha cabeça enfiada num chapéu (talvez para disfarçar-lhe o formato exageradamente oval), pra discordar e dizer que, ao contrário, os golpistas são heróis defensores do Estado Democrático.
A defesa do golpe armado vem (se você ainda não adivinhou) do indivíduo que se autointitula "Tio Rei", mas que atende também pela alcunha de Reinaldo Azevedo. E que é pago pela Veja, do sr. Civita, pra sempre contrariar a esquerda. Mesmo que, por diversas vezes, isso signifique contrariar o próprio bom senso (ou o que lhe resta disso).

Se tiver estômago, o texto pode ser lido aqui. Mas, pra lhe poupar deste desgosto, dá pra resumir o pensamento "majestoso" do "reizinho" pela seguinte ideia: Zelaya é o golpista, uma vez que arquitetava uma consulta popular (um plebiscito) para ver se o povo hondurenho aceitava ou não permitir-lhe concorrer novamente à presidência. Segundo o articulista oval, diante desta conduta de Zelaya, Honduras se socorreu da "democracia de uniforme" para defender a Constituição.

Esquece, porém, o pontiagudo, que seu querido Brasil foi quem catapultou os desejos de reeleição dos mandatários "américo-latinos", através do então presidente Fernando Henrique Cardoso. E não lembra, muito menos, que a proeza de FHC se deu após uma escandalosa compra de votos (leia aqui e aqui) no Congresso Nacional, que garantiu a aprovação da emenda da reeleição. E que a "grande mídia" exultava, à época, com a ideia, que tinha "apoio popular".

Se "reizinho" considera que Zelaya afronta mandados constitucionais ao propor que o povo (através da democracia direta, o plebiscito) decida sobre a possibilidade de um segundo mandato, então como o articulista chiliquento definiria a manobra tucana em 1997 (através da compra de votos em um processo de democracia representativa)?

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